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Alcoolismo e uma morte trágica nunca solucionada, a polêmica vida de Ted Healy, o criador dos Três Patetas


Nos anos de 1920 Ted Healy era o comediante mais bem pago dos Estados Unidos, e brilhava nos palcos do vaudeville e no cinema. Foi ele quem criou, em seus espetáculos, o grupo Os Três Patetas, e lançou a moda de piadas com violência física no entretenimento.

Polêmico, o ator morreu em uma morte com muitas versões, nunca esclarecida. Ele tinha apenas 41 anos na época.



Charles Ernest Lee Nash nasceu em 01 de outubro de 1896, em Kaufman, Texas. Seu pai era Charles McKinney Nash, um famoso jogador profissional e sua mãe era a atriz de teatro Mary Eugenia Healy, que lhe apresentou os palcos muito cedo.

Quando ele tinha 12 anos de idade ele e seu amigo de infância Harry Moses Horwitz (mais tarde conhecido como Moe Howard, de os Três Patetas) conseguiram um emprego na companhia da atriz Annette Kellerman, em um espetáculo de vaudeville. Mas o espetáculo teve curta duração, devido a um trágico acidente no palco.

Kellerman era uma nadadora que se tornou atriz, e fazia números musicais aquáticos muitos anos antes de Esther Williams. O espetáculo em questão continha uma piscina de vidro no palco, mas em uma das apresentações, uma das nadadoras calculou mal o mergulho e acabou quebrando o pescoço em cena.

Healy e Moe Howard seguiram a carreira separados após ocorrido, e o ator logo alcançou o estrelato nos palcos, e no começo da década de 1920 ele já era o artista de vaudeville mais bem pago, ganhando 9 mil dólares por semana, uma verdadeira fortuna na época. Sua irmã, Marcia Healy (1895-1972) também era atriz, e fez alguns filmes na década de 1930, incluindo alguns filmes dos Três Patetas, feitos após a morte de seu irmão.


Ted e Marcia Healy

Em 1922 alguns dos acrobatas deixaram a companhia de Healy, que precisava de novas atrações, e Moe Howard viu o anúncio no jornal colocado pelo ator e empresário, que procurava novos artistas. Moe acabou sendo contratado como "fantoche" que é o termo usado para atores disfarçados na plateia, que são chamados ao palco para interagir com o espetáculo.

No ano seguinte Healy contratou também o irmão de Moe, Shemp Howard e em 1925 a companhia passou a contar com a presença do violinista Larry Fine. Logo os três começaram a fazer diversos papéis de apoio para a estrela Ted Healy. Eles faziam um número onde o trio interpretava três rapazes sulistas burros e preguiçosos, enquanto Healy era um cavalheiro elegante.



Em 1927 Moe deixou brevemente a companhia para acompanhar o nascimento de sua filha. O grupo voltou a se reunir um ano depois, e agora conquistavam também a Broadway. O sucesso de Healy e seus patetas levou o grupo a ser contratado por Hollywood, e na Fox eles fizeram o filme De Cabo a Rabo (Soup to Nuts, 1930), tendo Healy como astro principal, e Moe, Shemp e Larry nos papéis de atrapalhados bombeiros.

Anos antes, Ted Healy havia feito sua estreia no cinema, atuando no ainda mudo Wise Guys Prefer Brunettes (1926), uma comédia curta dirigida pelo lendário diretor de filmes cômicos Hal Roach, criador de Os Batutinhas (Our Gang).



Ted Healy e os Patetas em  De Cabo a Rabo

Healy ganhava 30 mil dólares semanais do estúdio, enquanto Larry, Moe e Shemp ganhavam apenas 100 dólares por semana. O trio entrou em uma disputa salarial com Ted Healy, e acabaram deixando-o, indo trabalhar de forma independente. Eles formaram o grupo "The Three Lost Soles", que muitas vezes incorporavam números já feitos na companhia de Healy em suas novas apresentações.

Ted Healy então os processou, porém os direitos autorais pertenciam ao empresário Lee Shubert, que autorizou o grupo a continuar usando as piadas.

O ator e empresário então formou um novo trio, que era composto por Eddie Moran (que logo foi substituído por Richard "Dick" Hakins), Jack Wolf e Paul "Mousie" Garner, com quem fez dois espetáculos na Broadway. Os três formaram um trio com um humor bastante semelhante ao eternizado pelos patetas, e também trabalharam juntos no cinema.




No cinema, ele continuou atuando sem seus comediantes "escadas", aparecendo nos filmes A Night in Venice (1931), que era baseado em um antigo sucesso teatral seu.

Mas vendo que o trio reunido por ele originalmente estava fazendo sucesso, Healy os procurou e negociou novas condições de trabalho, e Larry, Shemp e Moe retornaram a sua companhia em 1932. Mas Shemp, almejando a carreira solo, deixou o grupo após 2 meses, e foi substituído por seu irmão Curly Howard.


Larry Fine, Curly e Moe Howard e Ted Healy

Em 1933 Ted foi contratado pela MGM, para estrelar uma série de filmes curtos. Sem o trio amalucado, ele apareceu em  Stop, Sadie, Stop (1933). Mas o estúdio também queria o trio de comediantes, e juntos com Healy eles apareceram no curta Rimas Patéticas (Nertsery Rhymes (1933), e Cerveja e Salgadinhos (Beer and Pretzel, 1933), já contando com Curly na nova formação.


Cerveja e Salgadinhos

Eles apareceram juntos nos curtas Hello Pop (1933), Totalmente Malucos (Plane Nuts1933) e A Grande Idéia (The Big Ideam, 1934). E Healy, sem os patetas, apareceu como coadjuvante nos filmes Beijos Por Dinheiro (Stage Mother, 1933) e Mademoiselle Dinamite (Bombshell, 1933), estrelado por Jean Harlow.


Jean Harlow e Ted Healy em Mademoiselle Dinamite

Mas o público não parecia estar tão interessado em Healy sozinho, e a MGM escalou-o junto aos patetas para coadjuvar alguns de seus maiores astros na época. Pela primeira vez creditados como Os Patetas (na verdade, Ted Healy e seus patetas) eles apareceram no longa Viva o Barão (Meet the Baron, 1933), uma comédia estrelada por Jimmy Durante.






Eles também alegram Amor de Dançarina (Dancing Lady, 1933), uma produção estrelada por Joan Crawford e Clark Gable. Também estiveram no elenco de Alegria no Ar (Myrtl and Marge, 1933), Amantes Fugitivos (Fugitive Lovers, 1933), e apareceram, sem crédito, em Festa em Hollywood (Hollywood Party, 1934), um filme estrelado pela dupla Stan Laurel e Oliver Hardy, mais conhecidos como O Gordo e o Magro. Infelizmente, eles não contracenaram no filme.



Ted Healy e Os Três Patetas com Joan Crawford e Clark Gable nos bastidores de Amor de Dançarina


Mas em 1934 Os Três Patetas receberam um vantajoso convite para estrelarem seus próprios filmes na Columbia, mas o estúdio não estava interessado em Ted Healy, que permaneceu na MGM. Sozinho, ainda atuou em A Espiã 13 (Operator 13, 1934), A Mão Invisível (Death on the Diamond, 1934), Os Quatro Bambas (The Band Plays On, 1934), A Nova Aurora (Lazy River, 1934), Amantes Fugitivos (Fugitive Lovers, 1934), Quando o Diabo Atiça (Forsaking All Others, 1934) e Um Idílio em Paris (Paris Interlude, 1934), fazendo papéis de apoio.

Ele continuou contratado da MGM, mas eventualmente foi emprestado para a Warner e a Fox, e apareceu em filmes como Sorte Grande e Nada Mais (The Winning Ticket, 1934), O Mistério do Casino (The Casino Murder Case, 1935), Tentação dos Outros (Reckless, 1935), O Cruzador Misterioso (Murder in the Fleet, 1935), Dr. Gogol - O Médico Louco (Mad Love, 1935), Batuta da Alegria (Here Comes the Band, 1935), Dois Águias em Vôo (It's in the Air, 1935), No Limite da Velocidade (Speed, 1935). Curiosamente, apesar de ter feito fama como comediante, em muitos destes filmes fez papéis sérios e dramáticos.

Em muitos destes filmes, ele apareceu usando uma peruca, para disfarçar sua calvície, geralmente escondida debaixo de um chapéu.










Querendo recuperar a popularidade, ele criou um novo trio para acompanha-lo, formado por Jimmy Brewster, Red Pearson e Sammy Wolfe. Eles gravaram uma cena cômica para São Francisco, a Cidade do Pecado (San Francisco, 1936), mas esta foi cortada na edição final, embora o papel de Healy tenha sido mantido no filme, sem o seu novo trio de apatetados.


Ted Healy com Jimmy Brewster, Red Pearson e Sammy Wolfe



Apesar da tentativa fracassada de retomar seu velho e clássico número cômico, ele teve um papel importante em Novos Ecos da Broadway (Sing, Baby Sing, 1936), e ainda atuou em Noites Sem Fim (The Longest Night, 1936), A Viagem do Barulho (Mad Holliday, 1936), O Homem do Povo (Man of the People, 1937), O Homem dos 40 Graus (The Good Old Soak, 1937) e Aprenda a Sorrir (Varsity Show, 1937).


Ted Healy e Patsy Kelly em Novos Ecos da Broadway


Em 21 de dezembro de 1937 Ted Healy foi a famosa boate Trocadero, em Los Angeles, para celebrar o breve nascimento de seu primeiro filho. Healy adorava crianças, e sempre visitava creches e orfanatos para entreter os pequenos, e se vestia de Papai Noel no natal para distribuir brinquedos, e sonhava em ser pai.


Ted Healy (vestido de Papai Noel), ainda com Os Três Patetas, distribuindo brinquedos para as crianças no natal


Alcoólatra, Ted Healy costumava arrumar confusão quando estava bêbado, e acabou se envolvendo em uma briga na boate. Após ofender três homens, eles foram para o lado de fora brigar. Ted propôs uma luta um a um, mas foi derrubado pelos homens na calçada, batendo a cabeça na guia. Desmaiado, eles continuaram batendo no ator, chutando sua cabeça, costelas e estômago.

Um amigo o resgatou inconsciente da calçada, e o levou para a sua casa, onde ele faleceu horas depois vítima de uma concussão cerebral seguida de uma parada cardíaca. Ele tinha apenas 41 anos de idade, e seu filho nasceu 4 dias após a sua morte, na manhã de natal de 1937.

Fotos do artista desmaiado, com a cabeça sangrando foram publicadas na imprensa, mas não as colocarei aqui (embora sejam facilmente achadas na internet).





Apesar da longa cobertura da imprensa sobre o caso, pouco foi informado sobre os detalhes e ninguém foi punido. Oficialmente, Ted Healy teria brigado com três universitários nunca identificados. Porém, os boatos que corriam nos bastidores contavam uma versão diferente.

Os três agressores seriam na verdade o astro da MGM Wallace Berry, vencedor do Oscar por O Campeão (The Champ, 1931), o jovem Albert R. Broccolli (futuro produtor dos filmes de James Bond) e seu primo Pat DiCicco (um ator, produtor e secretário de Howard Hughes). Pat DiCicco era conhecido como um homem violento, e era também uma espécie de capanga do mafioso Lucky Luciano. Ele também havia sido casado com a estrela Thelma Todd, e foi um dos suspeitos da misteriosa morta da atriz dois anos antes, um caso até hoje nunca esclarecido.

De acordo com o que corria nos bastidores, Eddie Mannix, uma espécie de faz tudo (ilegal) da MGM teria abafado o caso, e a história dos três universitários foi criada pelo departamento de publicidade do estúdio. Se a história é verdade ou não, não há como se comprovar, mas as suspeitas aumentaram quando imediatamente após a morte de Ted Healy o chefão da MGM Louis B. Mayer enviou Wallace Berry, seu astro lucrativo para umas longas férias na Europa que duraram vários meses, e o ator ficou na casa do executivo, sem fazer nenhum trabalho neste período. Quando retornou a Hollywood, em abril de 1938, a carreira do ator entrou em declínio.


O ator Wallace Berry


Quando Ted Healy morreu, em 21 de dezembro de 1937, ele estava falido e a MGM organizou uma espécie de vaquinha para pagar seu funeral. Mais tarde Moe Howard afirmou que foi Bryan Foy, antigo astro mirim do vaudeville e colega de Ted Healy dos tempos de teatro quem contribuiu com quase a totalidade das despesas. Segundo Howard, Healy havia perdido tudo com sua vida extravagante e em apostas nas corridas de cavalo.

Seu filho foi batizado uma semana após o funeral do pai. Após a sua morte, ainda foram lançados dois filmes que o ator havia concluído as gravações: Hollywood Hotel (1937) e O Amor é Dor de Cabeça (Love is a Headach, 1938).



Mabel Todd e Ted Healy em Hollywood Hotel


Ted Healy era um chefe terrível, que explorou seus contratados, e muitas vezes era considerado uma pessoa abusiva, mas seu papel foi fundamental na história do cinema, e merece ser reconhecido. Mentor dos Três Patetas, ele praticamente inventou o estilo de piadas brutas, que fez dos patetas lendas da memória cinematográfica. Ele também era reconhecido como uma grande influência por comediantes como Red Skelton, Milton Berle e Bob Hope, outros nomes lendários de Hollywood.











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3 Comentários

  1. Não tinha idéia de quem era e o papel deste ator, Ted Healy. Sua estória pessoal fala mais da natureza humana dos artistas e como naquela época os grandes estúdios podiam gerir a vida profissional de seus contratados, para bem ou para mal. Bela matéria.

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  2. Poxa vida, que história! Lee Schubert mencionado no início da matéria, foi quem levou Carmem Miranda aos EUA. Obrigado por nos trazer essa história...

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