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James Murray, o astro do cinema mudo que virou mendigo


Na história do cinema, a morte trágica de um ator pode o levar à imortalidade, como nos casos dos lendários James Dean e Marilyn Monroe. Mas não foi assim para o há muito esquecido James Murray, que de figurante virou astro, ainda nos tempos do cinema mudo, mas após a chance de uma vida, viu sua carreira desmoronar rapidamente.

Morando nas ruas, ele morreu com apenas 35 anos de idade.


O ator James Murray


James Murray nasceu em Nova York em 09 de fevereiro de 1901. Embora tenha nascido na alta sociedade, James Murray, antes de ingressar no cinema, ele trabalhou como lanterninha de um cinema, e fez sua estreia como ator em The Pilgrins (1924), um curta-metragem produzido pela Universidade de Yale, onde ele estudava na época.

Murray gostou da experiência, e mudou-se para Hollywood para tentar a carreira nas telas. Mas levou três anos para conseguir um novo papel, como figurante, no filme Caras e Corações (Tillie The Toiller, 1927). Enquanto esperava sua grande chance no cinema, trabalhou como lavador de pratos, maquinista de trem e mineiro em uma mina de carvão.

Sem grandes oportunidades, ele continuou enfrentando a fila de extras que ficavam nas portas dos estúdios, em busca de algum trabalho. Um dia, na porta da MGM, ele foi visto pelo aclamado cineasta King Vidor, que procurava um rosto novo para seu próximo filme.

Vidor marcou uma reunião com o aspirante a astro, que não compareceu, achando ser uma piada de alguém se passando por King Vidor

O diretor não se deu por satisfeito, e iniciou uma longa busca atrás do figurante que lhe havia chamado a atenção, até que o encontrou, novamente na fila para conseguir um papel.

King Vidor levou James Murray para fazer um teste de câmera com o produtor Irving Thalberg, o todo poderoso da MGM, e disse a Thalberg que Murray era um dos melhores e mais naturais atores que ele já tivera a chance de encontrar. A MGM lhe ofereceu um bom contrato para o ator, que foi escalado para ser o astro de A Turba (The Crowd, 1928).




Murray interpretava John Sims, um homem criado para ser um sucesso, mas que acaba se tornando mais uma pessoa comum em meio a turba urbana das grandes cidades. O drama mostrava os altos e baixos na vida cotidiana, bem como os desesperos, acidentes, brigas e frustrações com a vida material e as relações pessoais. A MGM achou o final muito deprimente, e pediu para Vidor gravar sete finais alternativos, mas nas exibições teste, o público preferiu a versão original do diretor.



James Murray em A Turba


O filme fez um enorme sucesso, e foi indicado a 2 Oscars em 1929, a primeira edição do prêmio. A Turba concorria a Melhor Filme e Melhor Diretor, mas Louis B. Mayer, o dono da MGM, por não gostar do final, fez campanha negativa contra A Turba na premiação.

O salário de Murray foi aumentado, e ele foi promovido ao primeiro time de artistas do estúdio. Ele foi escalado para fazer par romântico com a estrela Joan Crawford em Rosa Maria (Rose Marie, 1928) e foi emprestado para a Warner, onde estrelou a comédia The Wildcat (1928).



James Murray e Joan Crawford


Ainda em 1928 ele se casou com Lucille McNames, que havia feito figuração em A Turba.


James Murray e Lucille McNames


Ao lado de Lon Chaney, ele estreou Piratas Modernos (The Big City, 1929), e coadjuvou o ator em seu filme seguinte, O Trovão (Thunder, 1929).



Lon Chaney e James Murray em Piratas Modernos


O Trovão foi seu último grande trabalho na MGM, que já não se interessava tanto pelo novo astro. Murray começou a dar trabalho nos bastidores, fazendo grandes exigências, e bebendo demais durante os intervalos. Perdido na fama repentina, o ator foi demitido da MGM.

Na Universal, ele fez seu primeiro filme sonoro, Os Trapaceiros (The Shakedown, 1929). No mesmo estúdio, ainda atuou em Perdição (Shangai Lady, 1929).



James Murray no cartaz de Os Trapaceiros




Além de causar problemas nos estúdios onde passava, o seu alcoolismo crônico levou o ator a ser preso diversas vezes, ao ser encontrado embriagado. E em agosto de 1930, após comparecer em uma audiência bêbado, o ator foi condenado a seis meses de prisão, mas cumpriu apenas quatro, devido ao bom comportamento.

Ao sair da cadeia, o ator deixou de beber, e conseguiu um papel coadjuvante em Emoções de Esposa (Kick In, 1932), na Paramount.



Clara Bow, Wynne Gibson, James Murray e Regis Toomey em Emoções de Esposa



No ano seguinte, ele assinou um contrato de sete anos com First National. Ele também se casou com a atriz Marion Sayers, ex Miss Florida, que teve uma modesta carreira no cinema.

Mas o ator trabalhou pouco na First National, novamente devido ao uso excessivo de álcool. Ele estrelou algumas produções, e depois foi rebaixado a figurante novamente, antes de ser demitido. E em agosto de 1933 Marion pediu o divórcio, alegando que o marido bebia demais e a obrigava a trabalhar para sustentá-lo.



Ruth Chatterton e James Murray no cartaz de Sagrado Dilema (Frisco Jenny, 1932), feito da First National



Completamente arruinado, o ator foi morar nas ruas, e frequentemente era reconhecido pedindo esmolas nas calçadas, o que era amplamente noticiado pela imprensa da época. King Vidor, que havia o descoberto sete anos antes, passou a andar pelas ruas atrás do ator.

Quando ele o encontrou, Murray lhe pediu uns trocados. Vidor o levou para jantar, e durante a conversa disse que o queria como astro de seu próximo filme, O Pão Nosso (Our Daily Bread, 1934), que contava a história de um homem que perdeu tudo durante a Quebra da Bolsa de Valores de Nova York.

Vidor pediu para o amigo, agora um mendigo acima do peso e desgrenhado, que ele apenas parasse de beber como condição de ficar com o papel. Murray se sentiu ofendido, levantou da mesa e foi embora. 

John Murray ainda trabalhou como figurante nos anos seguintes, inclusive no remake de Rose Marie de 1935. Anos antes, ele havia sido protagonista da mesma história nos cinemas.

Seu último trabalho no cinema foi engrossando as multidões no filme São Francisco, a Cidade do Pecado (San Francisco, 1936). O filme foi lançado no final de julho de 1936.

Poucos dias depois, em 11 de julho de 1936, o corpo de John Murray foi encontrado no Rio Hudson, em Nova York. Ele tinha apenas 35 anos de idade, e o legista determinou que ele morreu vítima de afogamento.

Até hoje não se sabe se o ator cometeu suicídio, foi jogado ou caiu acidentalmente da ponte sobre o rio.

Seu irmão, Harry Murray (1903-2002), também foi ator nos tempos do cinema mudo, e posteriormente tornou-se produtor da rede de televisão CBS.

King Vidor passou o resto da vida atormentado com a história de Murray, e chegou a escrever um roteiro chamado O Ator, baseado em sua vida, porém ele nunca conseguiu que o mesmo fosse filmado.



James Murray e Harry Murray, ao centro a irmã e o pai dos atores





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