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A tragédia e ruína da atriz Lída Baarová, a amante de Goebbels



Lída Baarová foi uma das maiores estrelas do cinema da Tchecoslováquia da década de 1930. Sua fama transcendeu seu país de origem, e fez dela uma atriz renomada no mundo inteiro, sendo muito comentada inclusive no Brasil durante este período.

Grande nome cinematográfico, ela chamou a atenção de produtores alemães, que a levaram para filmar no país, onde também foi promovida a um dos maiores nomes das produções da Alemanha.

No país, que vivia sob o regime de Adolf Hitler, ela conheceu o infame ministro da propaganda Joseph Goebbels, e acabou se tornando a amante favorita do político. Isto promoveu ainda mais sua carreira, mas destruiu a sua vida.


Lída Baarová na imprensa brasileira


Lída Baarová


Ludmila Babková nasceu em Praga, em 14 de setembro de 1914. Filha de um funcionário público, ainda criança Lída Baarová começou a estudar no Conservatório Estadual de Praga, e aos 14 anos estreou no teatro interpretando Julieta em uma montagem de Romeu e Julieta.

Aos 17 anos de idade ela estreou no cinema, atuando em Kariéra Pavla Camrdy (1931), e logo se tornou uma grande estrela do cinema local. Tanto que conseguiu papéis para sua mãe, Ludmila Babková e sua irmã, Zorka Janu, que também fez um relativo sucesso cinematográfico.


A atriz Zorka Janu


O sucesso da atriz chamou a atenção dos produtores da UFA, o maior estúdio cinematográfico da Alemanha na época. Diante da proposta irrecusável, Lída mudou-se para à Alemanha, onde também iniciou uma bem sucedida carreira cinematográfica.




O auge de sua carreira veio com o sucesso mundial de Barcarola (Barcarole, 1935), que ela protagonizou ao lado do ator Gustav Fröhlich, um astro do cinema alemão desde os tempos do cinema mudo (ele foi o protagonista masculino do clássico Metrópolis, 1927, de Fritz Lang), e que chegou a filmar em Hollywood.


Matéria sobre Barcarola, publicada na imprensa brasileira


Baarová e Fröhlich fizeram diversos filmes juntos, inclusive outro sucesso internacional, Hora da Tentação (Die Stunde der Versuchung, 1936)., e tornaram-se um casal queridinho do público alemão. A parceria se estendeu além das telas, e eles passaram a morar juntos em uma luxuosa vila modernista que a atriz mandou construir na Alemanha, onde também morava sua mãe e irmã.

A casa, feita pelo famoso arquiteto Ladislav Zák, tinha o formato de um navio.



A mansão de Lída Baarová (que ainda existe)


Lída Baarová e Gustav Fröhlich



A residência náutica era vizinha de uma das propriedades de Joseph Goebbels, o poderoso ministro de propaganda de Adolf Hitler. Goebbles era o responsável por todo departamento de comunicação do governo nazista.

A UFA, estúdio em que Baarová reinava, estava sofre controle estatal, e era Goebbels quem decidia que filmes seriam produzidos, e mesmo quais as produções internacionais poderiam ser exibidas no país. A grande maioria das produções cinematográficas da época eram feitas com o intuito de fazer propaganda do regime, e ele também era o responsável por dizer que atores poderiam filmar no país.

Goebbels também tinha relações com praticamente todas as estrelas do estúdio, que também tinham de estar disponíveis para casos com outros oficiais do alto escalão nazista.

Mas Goebbels e Baarová foram além de um caso nos bastidores do estúdio. Ela se tornou sua amante favorita, e chegou a comparecer com o ministro em eventos públicos durante quase 2 anos.


Lída Baarová, Gustav Fröhlich e Joseph Goebbels


Lída Baarová e Joseph Goebbels



Certo dia Fröhlich chegou em casa sem avisar, e flagrou Baarová e Goebbels na cama. Ele acabou discutindo e insultando o ministro, e desferiu um soco em seu rosto, arrancando um dente de sua boca. Como resultado, um dos maiores astros do cinema alemão acabou banido das telas da UFA, e chegou a ficar um tempo preso em um Campo de Concentração.

Magda Goebbels, a esposa de Joseph sabia dos casos extra conjugais do marido, e nada fazia em relação a isto. Porém, com medo do escândalo após seu esposo ter apanhado de um astro de cinema, procurou Adolf Hitler, que era seu amigo pessoal, e pediu para ele intervir e proibir o romance com a atriz.

Vendo que a coisa ficava séria, e pior, era de conhecimento do público, Hitler ordenou que Goebbels se afastasse da atriz. Ordem dada era ordem cumprida, e Goebbels não só se afastou da atriz, como a baniu do cinema alemão.

Hitler mandou retirar seu filme mais recente, Os Homens Devem Ser Assim (Männer Müssen So Sein, 1939) dos cinemas, e destruiu todo material publicitário envolvendo o nome da atriz, que anos antes havia recusado uma oferta milionária da MGM, em Hollywood, para continuar sendo um grande cartaz do cinema alemão.


Lída Baarová e Adolf Hitler



A atriz foi proibida de fazer aparições públicas, e passou a ser vigiada e perseguida pela Gestapo. E quando a Segunda Guerra Mundial estourou, ela conseguiu fugir com a família para Praga.

Mas não foi bem recebida em sua terra natal, por ser considerada uma traidora e colaboracionista. Ela então foi para à Itália, onde foi bem recebida por Mussolini, e atuou no país durante o regime fascista, retomando o status de estrela.



Lída Baarová no cinema italiano


Quando as tropas aliadas chegaram à Itália, Lída foi presa e extraditada para seu país de origem. Em Praga, ela foi presa por ter colaborado com os nazistas. Sua mãe foi morta durante um interrogatório e Zorka Janu, sua irmã, acuada, cometeu suicídio, jogando-se da janela do prédio onde morava.

Após 18 meses na cadeia, Lída sofreu um colapso nervoso, e acabou internada em um sanatório psiquiátrico. Ela foi solta as vésperas do natal de 1946. Ela então se casou com um produtor teatral, que era parente do Ministro do Interior Tcheco, e com ele fugiu para à Argentina.

Na América do Sul, a atriz passou necessidades financeiras, chegando a viver em situação de miséria.


Na década de 1950 ela retornou à Itália, onde conseguiu pequenos papéis no cinema, inclusive em Os Boas Vidas (I Vitelloni, 1953), de Federico Fellini.


Lidá Baarová e Franco Fabrizi em Os Boas Vidas



Sem fazer muito sucesso na Itália, tentou a carreira teatral na Áustria, mas também não foi recebida no país, devido ao seu envolvimento com os nazistas. Foi na Espanha, sob o regime de Franco, que ela conseguiu seus últimos papéis, atuando em filmes menores do país, até 1958.



Lída Baarová no filme espanhol Rapsodia de Sangre



Depois ela desistiu de atuar, e viveu no ostracismo nos anos seguintes. Ela morreu na Áustria, vítima de Mal de Parkinson, em 28 de outubro de 2000, aos 86 anos de idade.


Em 2016 sua vida foi contada no filme tcheco Lída Baarová (2016), estrelado pela atriz Tatiana Pauhofová. A obra está disponível na Netflix.













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